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Entre fé, corpo e desejo

  • Foto do escritor: tiagompeixotopsi
    tiagompeixotopsi
  • 21 de nov.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 22 de nov.

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Pintura: "Amor sacro e amor profano" (1515) de Ticiano. Para alguns, uma representação da relação entre o amor humano e sensual e o amor divino e transcendental. Não há um oposição, a criança ao meio representaria o deus Grego Eros, na sua inocência, seria a ponte entre as duas formas de amor.



Como psicólogo, frequentemente observo que a espiritualidade e a religiosidade podem oferecer um solo fértil para o sentido, mas ao mesmo tempo podem promover impasses em torno da sexualidade. Comumente, encontramos relatos que versam sobre a batalha do corpo e do desejo em um terreno moralizado, em que o pecado ou a vergonha silenciosa eclipsam a experiência afetiva. Não comumente esse embate acontece de forma privada, longe dos guias espirituais e até dos profissionais de saúde.

Vejo surgir um impasse quase irremediável quando a pessoa, na sua fé, deseja compreender sua sexualidade sem ser julgada por ela. No papel de psicoterapeuta, me deparo com pessoas que sentem que sua fé exige a escolha entre renunciar à dimensão e aceitar a insatisfação ou aceitá-la de forma parcial, mas orientada por parâmetros idealistas e, por vezes, irrealistas. Essa tensão pode gerar sofrimento psicológico: culpa, fragmentação interna, distanciamento de si mesmo. Aqui, a espiritualidade, em vez de libertar, se torna um fardo.

Na minha forma de atuar, então, procuro cultivar uma escuta que não minimize o peso da fé, nem ignore a urgência de existência sexual e afetiva. Não que isto seja fácil, mas a estratégia envolve fazer arranjos criativos, mesmo que situacionais, podendo manter um horizonte moldado pela fé da pessoa, mas de forma que isto seja vivenciado de forma mais equilibrada. Não há uma resposta unificada para todas as situações vividas pelas pessoas; há níveis diferentes de tolerância de angústia, vergonha e revolta, para nomear alguns estados afetivos comuns. Por isto, qualquer acompanhamento com esta pessoa, para que ela possa sentir que não precisa escolher entre espiritualidade e sexualidade, envolve descobrir maneiras de navegar entre ambas as dimensões. Uma das possibilidades é identificar que a sua fé pode ser fortalecida e enriquecida pelas informações e pela relação reflexiva com o próprio corpo e de tudo o que parte dele.

Por fim, creio que, como terapeutas, é nossa responsabilidade ética criar esse espaço de ponte: entre crença e desejo, entre espiritualidade e corporeidade, entre o prazer e o sofrimento que transitam entre estes campos. Só assim podemos apoiar pessoas para que vivam sua fé de modo integral — não negando partes de si mesmas, mas integrando-as com dignidade e suavidade.


Tiago Peixoto




 
 
 

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